Escrita por Glalber Duarte.
CAPÍTULO 023
CENA 001. CASA DE LUIZ. INTERIOR. SALA. RJ. NOITE.
(Continuação imediata do capítulo anterior. FUNDO: “ShyMoon”. LUIZ fica sem palavras. ALAN chora, fica em prantos).
ALAN – Eu não deveria ter te dito isso. Não queria que nossa amizade se abalasse. Não. O que eu fiz foi um erro, o que eu sou, sou um erro. Sujo, imundo. Isso que sou.
(ALAN se dirige à saída. Pega na maçaneta da porta e a gira. Até que um abraço forte o interrompe).
LUIZ – Da minha vida você não sai!
(ALAN se vira e encosta a cabeça no ombro de LUIZ, no abraço. Os dois choram).
LUIZ – ALAN, eu te aceito do jeito que tu é! Não tem essa de preconceito comigo. Eu te amo, meu amigo. Te amo muito.
ALAN – LUIZ, eu... Eu nem tenho palavras pra dizer.
LUIZ – Eu amo aqueles que a sociedade despreza... Vocês, gays, são muito massacrados... Inferiorizados ou até mesmo mortos pelo simples fato de ter uma definição sexual diferente do normal, imposto por eles...
ALAN – LUIZ... Eu não esperava isso de você!
(ALAN se afasta, LUIZ enxuga as lágrimas do amigo, com a mão).
LUIZ – Não fica assim não, tá? Olha... Eu tô aqui, contigo, não precisa chorar. Não poderia ser contra você. Mesmo se eu fosse homofóbico, com esse seu gesto, deu pra perceber que você gosta realmente de mim.
ALAN – E muito. Você nem sequer imagina.
(LUIZ senta no chão mesmo e puxa ALAN, para sentar ao lado dele).
LUIZ – Pro que precisar, essa casa será tua. Se houver algum problema com MARIANA, eu acho que não, mas... Já sabe.
ALAN – Eu te adoro, meu amigo, meu irmão. O irmão que eu nunca tive!
(LUIZ puxa ALAN pra si, fazendo cafuné nos cabelos dele. CAM afasta).
CENA 002. NORTE SHOPPING. INTERIOR. SALÃO.
(FUNDO: “Me Chama”. CAM de cima pra baixo, até fixar nos rostos de PABLO e ÉRIKA. Os dois se encontram ali, em frente à fonte do local. Ele pega nas mãos dela e os dois correm até o cinema, que é ao lado. Compram os ingressos e voltam ao local onde se encontraram).
PABLO – É... O filme vai começar à meia hora. O que faremos nesse tempo?
ÉRIKA – Bora dar uma volta... Sei lá.
PABLO – Fazer o que?
ÉRIKA – Vem comigo!
(ÉRIKA puxa PABLO e os dois saem correndo, do local. CAM afasta, mostrando o salão por inteiro).
CENA 003. LOCAIS DIVERSOS DO SHOPPING.
(Com a música tocando, PABLO e ÉRIKA caminham pelo shopping. Observam as vitrines, entram em algumas lojas. De roupas, experimentando algumas e não levando nenhuma. Entram em lojas de brinquedos, usando os mesmos, fazendo bagunça e após, arrumando é claro. Comem em fastfood).
CENA 004. CASA. EXTERIOR. RJ. NOITE.
(FIM DA MÚSICA. TENSÃO. Em CAM lenta, RODRIGO caminha, carregando um taco de basebol. Ele se dirige a PEDRO, que também veste preto. Ele está escorado na parede, apoiado com uma das pernas. Os dois se cumprimentam).
RODRIGO – É hoje. Hoje que aquele viadinho vai aprender a ser homem.
PEDRO – Se ele sair vivo, né?
(Os dois gargalham. Chegam mais alguns quatro jovens. Todos de preto).
CENA 005. RUAS DO RIO DE JANEIRO.
(FUNDO: “BlahBlahBlah – Ke$ha”. VITÓRIA anda de bicicleta pelas ruas. Seus cabelos ao vento. Até que não percebe que um jovem surge na sua frente, ele correra para atravessar a rua, em sinal aberto, mas não evitou que VITÓRIA perdesse o controle e caísse logo mais a frente. VITÓRIA se levanta, irada).
VITÓRIA – Quem foi esse viado que se meteu em meu caminho, hein?
CARLOS (surgindo) – Meti-me em seu caminho, literalmente, né, jovem?
VITÓRIA (se vira) – Não acredito que é você. Não! Não pode ser.
CARLOS – É muita falta de sorte que eu tenho, viu?
VITÓRIA (levanta) – Não me diga?
CARLOS – Ter que te ver aqui, na facul... Muita falta de sorte.
VITÓRIA (encosta a bike em um poste, prendendo-a) – Falta de sorte foi a minha, por você ter nascido. Infeliz.
CARLOS (aponta o dedo pra ela) – Meça as suas palavras, mocinha.
VITÓRIA (aproxima o rosto, fazendo gestos com o mesmo, em deboche) – E aí, vai encarar? Vai ter coragem de bater numa mulher?
CARLOS – Olha que eu tenho, hein!
VITÓRIA – Eu te denuncio. Lei Maria da Penha está em vigor.
CARLOS – E você pode disseminar seu ódio, me chamando de tudo o que é nome?
VITÓRIA – Posso sim, a boca é minha. A ditadura já acabou.
CARLOS – Isso é falta de piroca!
(VITÓRIA tasca um tapa no rosto de CARLOS, que devolve).
CARLOS – Como dizia naquela novela... Bateu, levou!
CENA 006. CASA DE MARIANA. INTERIOR. SALA.
(CORTA A MÚSICA. MARIANA está deitada no sofá, pensativa. Até que alguém bate na porta. Ela levanta num pulo e corre para atender).
MARIANA – Ué, será que é o ALAN? Mas tão rápido? Estou curiosa pra saber o que aconteceu.
(MARIANA abre a porta e é PIETRO, que sai entrando).
PIETRO – MARIANA, eu preciso falar um negócio muito sério com você.
MARIANA – Calma, PIETRO, também não precisa entrar assim...
PIETRO – Eu estou engasgado, preciso lhe falar.
MARIANA – Mas o que é? Fale de uma vez!
PIETRO – Eu tô gostando de você!
MARIANA – Sim, eu já sabia.
PIETRO – Sabia? Como assim?
MARIANA – Senão você não falaria comigo. Se somos amigos, é porque você gosta de me ter como amiga.
PIETRO – Não é dessa maneira.
MARIANA – Não venha me dizer que...
PIETRO – Eu te amo. Estou apaixonado por você. Pronto, falei!
(CLOSE na face de MARIANA).
CENA 007. CASA DE CAMILA. INTERIOR. SALA.
(JOÃO segura CAMILA, que quer avançar na SENHORA, que aponta o dedo pra ela, tendo uma crise de histeria).
SENHORA – Você vai pagar, sua charlatã dos infernos. Vai pagar atrás das grades.
CAMILA (se debatendo) – Idiota! Você quem me aguarde. Farei uma macumba braba, vou te deixar aleijada.
SENHORA (deboche) – Hohoho. Tô morrendo de medo!
CAMILA – Pois que fique. A senhora que me aguarde.
SENHORA – Eu que o diga. É melhor me devolver o dinheiro, senão serei obrigada a lhe denunciar.
CAMILA – Isso nunca. Eu sou uma mulher honesta, fiz meu trabalho.
SENHORA – Honestíssima. Até agora não vi resultado.
CAMILA – Me solta, JOÃO! (se desvencilha) Aqui você não fica nem mais um minuto. Eu não aceito essas ofensas! Sai, sai, sai!
(CAMILA empurra a SENHORA, que revida com um tapa. As duas brigam novamente, mesma sonoplastia de galinha cacarejando no ar. JOÃO separa e a SENHORA acaba se retirando. CAMILA arruma os cabelos, que estão esvoaçados).
CAMILA – Mas essa coroca me paga! Ela vai me pagar!
JOÃO – Eu tô com medo.
CAMILA – De que, seu peidão?
JOÃO – E se ela for denunciar a gente? E se formos presos?
CENA 008. CASA. EXTERIOR. RJ. NOITE.
(RODRIGO, PEDRO e o resto da gangue esperam no local. Até que RAMON se aproxima. FUNDO: “Devil In Disguise – Sepultura”).
RODRIGO – Vambora, caralho!
(Os jovens correm em direção a RAMON, que se assusta. Tenta correr. Os jovens fazem uma roda em volta do rapaz, xingando-o de tudo quanto é nome).
JOVENS (em coro/gritando) – Viado! Baitola! Queima rosca!
(Cada um empurra RAMON de um lado para o outro, até que o mesmo cai ao chão).
CENA 009. RUAS DO RIO DE JANEIRO. NOITE.
(VITÓRIA com a mão no rosto e pronta para bater em CARLOS novamente, mas os gritos de socorro de RAMON a interrompe).
VITÓRIA – Meu Deus, o que será que é isso?!
CARLOS – Vamos ver!
VITÓRIA – Sei lá cara, eu tô com medo.
CARLOS – Mas o rapaz deve estar precisando de ajuda.
CENA 010. CASA DE LUCAS. INTERIOR. SALA. RJ. NOITE.
(FUNDO: “One Fatal Secret – Sepultura”. LUCAS pensa consigo mesmo).
LUCAS – Eu preciso falar com o RAMON. Eu agi de má índole...
(LUCAS sai de casa).
CENA 011. CASA. EXTERIOR.
(Os jovens se afastam e RODRIGO e RAMON se levanta. Os dois ficam frente a frente).
RAMON – Você?! Mas, o que irá fazer comigo?
RODRIGO – Fazer com que sua viagem para o inferno seja mais rápida! Seu viado dos infernos.
(RODRIGO ergue o taco e marreta na cabeça de RAMON, que cai ao chão. Bate com bastante força em RAMON, que começa a se ensanguentar. RODRIGO bate, bate e bate, até não ter mais forças. RAMON nesta hora está desmaiado. CARLOS e VITÓRIA chegam, gritando).
CARLOS (gritando) – Para de bater nele, seu animal!
(Sem que CARLOS o reconheça, RODRIGO foge, com sua gangue. CARLOS corre atrás, para tentar alcança-los. VITÓRIA se dirige ao corpo de RAMON. Uma poça de sangue se abre. A jovem segura o corpo de RAMON e após larga, assustada. Suas mãos cobertas de sangue. Ela fica em estado de choque).
A SEGUIR CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
- LUCAS conversa com MAURO.
- CARLOS abraça VITÓRIA.
- ÉRIKA entra no quarto de PABLO.
FIM DO CAPÍTULO
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