CAPÍTULO 017
Escrito Por GLALBER E. DUARTE
CENA 001. RUAS DO RIO DE JANEIRO. INTERIOR. DIA.
(Continuação imediata do capítulo anterior. FUNDO: “Pedacinhos”. ALAN fica retraído).
ALAN – Ai, Mari... Sei não, seria um incômodo pra você, nos conhecemos ontem...
MARIANA – Eu que não vou deixar um amigo, já penso assim, na rua. Você me deu uns conselhos. Tanto você, como o PIETRO, o garoto que estava aqui comigo. Sei que queres meu bem. E ter me virado contra Deus, foi sim, um erro gravíssimo meu.
ALAN – Fico feliz, muito feliz por ter entendido isso, agora eu não posso aceitar esse seu convite, não quero infringir sua privacidade... Eu tomo um rumo já...
MARIANA – Não está me entendendo? Não saio daqui enquanto você não vier comigo.
ALAN – Mas...
MARIANA – Não é um pedido, mas sim, uma ordem.
ALAN – Tá bom... A senhorita venceu!
(MARIANA levanta, estendendo o braço para ALAN).
MARIANA – Vamos?
(ALAN pega a mão de MARIANA, que o levanta, no salto, ele diz).
ALAN – Vamos!
(Os dois saem, indo em direção à casa da jovem).
CENA 002. CASA DE LUCAS. INTERIOR. QUARTO.
(CORTA A MÚSICA. FUNDO: “Papel Marché”. RAMON estranha).
RAMON – O que é LUCAS? Porque está me olhando com essa cara aí?!
LUCAS – Como você pôde se aproveitar de mim?
(RAMON levanta).
RAMON – Se aproveitar?! Eu me aproveitei? Tu me agarraste.
LUCAS – Eu... (anda) Eu nunca faria isso, não é de meu feitio. Sou hétero.
RAMON – Até certo ponto. Sóbrio, sem bebida, você é hétero. Após, bêbado, vira bi. Bissexual ativo.
(LUCAS se enfurece e dá um tapa no rosto de RAMON).
LUCAS (irado) – Você não tem o direito de dizer isso de mim, ouviu?!
RAMON – Dizer a verdade? Então, não me calo. Nada vai calar minha voz, quando eu estiver certo.
LUCAS – Você se aproveitou de mim!
RAMON – LUCAS, eu não queria. Não queria. Acabei não resistindo, você me pediu pra tirar sua roupa, depois jogou aquelas piadas, me agarrou e deu no que deu.
LUCAS – Eu estava fora de mim, não lembro nada disso. Você abusou da minha boa vontade.
RAMON – Será que dá pra você acreditar em mim? Porque eu faria isso contigo, logo agora? Tantas vezes que ficou pelado na minha frente e eu não fiz nada!
LUCAS – RAMON, eu quero você fora daqui.
RAMON – Cara?! Como assim? Você não pode dizer uma merda dessas/
LUCAS – Não só da minha casa, mas da minha vida. Isso não se faz. Te quero fora daqui!
RAMON – Mas/
LUCAS – Rua! Rua! Sai, sai daqui!
(LUCAS pega RAMON pelo braço e o arrasta para fora do quarto).
CENA 003. CASA DE LUCAS. EXTERIOR.
(LUCAS joga RAMON para fora de casa. Ele está de cueca, apenas).
RAMON – E as minhas roupas?
(LUCAS joga as roupas de RAMON para fora. Nesse momento, RODRIGO chega da rua e se assusta).
RODRIGO – Mas o que é isso?!
(RODRIGO se aproxima. TENSÃO).
CENA 004. CASA DE MARIANA. INTERIOR. SALA. RJ. DIA.
(MARIANA e ALAN entram. O jovem põe suas malas no chão e observa a casa, impressionado).
MARIANA – Não repara não, casa de pobre é assim mesmo. Eu tenho que arrumar um emprego rápido.
ALAN – Eu também preciso, pra te ajudar nas despesas.
MARIANA – Não esquenta. Você é meu hóspede. Ficará aqui o tempo que quiser.
ALAN – Eu quero mesmo é que essa maré baixe e que meus pais me perdoem.
MARIANA – Você acabou não me dizendo... Porque foi expulso de casa?
ALAN – É um assunto muito delicado. Sobre algo que sou e nunca irão mudar.
MARIANA – Eu não tenho preconceitos. Pelo contrário. Amo, acima de tudo. Deus diz que ama o pecador, mas abomina o pecado. Você, mesmo com suas práticas, nunca deixará de ser amado por Deus. E muito menos por mim.
ALAN – Mas não são práticas, Mari. É algo que eu não posso mudar. Não sinto nada por mulheres.
MARIANA – Então você é/
ALAN – Gay, homossexual, viado, baitola, bicha... Sou isso tudo. Eu nasci assim. Não escolhi.
MARIANA – Ninguém nasce gay, ALAN. Isso foi o que aprendi desde criança, foi o que aprendi de minha religião.
ALAN – E quem comprova isso? Perguntaram aos gays se eles nascem ou não nascem gays? Desde que eu me entendo por gente, sinto atração por homens. E sempre foi isso. Sei lá, parece que sinto asco por mulheres.
MARIANA – E já teve práticas sexuais com... Homens?
ALAN – Na primeira vez que tive, fui pego no ato. Nisso que fui expulso.
MARIANA – Eita!
ALAN – E o pior é que tudo não passou de uma simples armação. Do meu próprio irmão, que me odeia. Aquele demônio! E do RODRIGO, você não conhece.
MARIANA – ALAN! Não use o nome do coisa ruim. Por mais que seu irmão seja perverso, classifica-lo como o maligno, é uma declaração bem infeliz.
ALAN – Mas você não o conhece, ele é pior do que o demônio. Mas se eles pensam que vai ficar assim, os mesmos que me aguardem. Vou acabar com a vida de RODRIGO e PEDRO. Ah, vou.
CENA 005. CASA DE LUCAS. EXTERIOR.
(LUCAS gesticula para RAMON não dizer nada e se dirige a RODRIGO).
LUCAS – Não é nada, meu filho. Nada. Tá tudo bem.
RODRIGO – Porque você está expulsando seu amiguinho viadinho de casa?
LUCAS – É por/
RODRIGO – E faz bem, porque nunca gostei dele, esse pecador, sujo. Viados merecem a morte.
(RAMON se aproxima).
RAMON – Mata o teu pai então. Ele transou comigo ontem à noite. Foi uma maravilha...
(TENSÃO. LUCAS fica assustado. RODRIGO também. RAMON satisfeito. CLOSE em LUCAS).
A SEGUIR CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
- CAMILA e JOÃO correm.
- Um corpo coberto por sangue, estirado no chão.
- ALAN vai à igreja.
FIM DO CAPÍTULO
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