Escrito Por GLALBER E. DUARTE
Não Recomendado Para Menores de 14 Anos.
Personagens do Capítulo: ALAN – PEDRO – MAURO – LUCIANA – LUIZ – RODRIGO – MARIANA – ÉLCIO – RAQUEL – VITÓRIA – PABLO – LOLÔ – ÉRIKA
Apoio: DIRETOR – DIRETORA
CENA 001. UNIVERSIDADE NOVOS ARES. INTERIOR. SALA DA DIREÇÃO. RJ. NOITE.
(Um casal de diretores conversa. A mulher mexe nuns arquivos. Manuseia numa pasta. Abre-a).
DIRETORA – Está vindo uma turma nova na área de Direito, viu?
DIRETOR – Ela já está fechada?
DIRETORA – Fechadíssima. Parece-me que os últimos dois rapazes conseguiram se matricular à tarde.
DIRETOR – Quais são?
DIRETOR – Alan e Pedro. São irmãos.
(FUNDO: “Clarear – Roupa Nova”. Os dois continuam a conversar. CAM afasta).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 002. IMAGENS. NOITE/DIA.
(O sol clareia. Como diz na música. Ele surge, irradiando o céu. Lindo, brilhante, quente. Pessoas acordam, aleatoriamente. Está começando mais um dia. De levantar cedo. Trabalhar. Levar os filhos à escola. Ir à academia. Estudar).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 003. FACHADA DA CASA DE ALAN. EXTERIOR. DIA.
(CLOSE lentamente na casa de ALAN. Frisa nela).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 004. CASA. INTERIOR. QUARTO DE ALAN. RJ. DIA.
(CAM sobe dos pés descobertos à cabeça, coberta com o travesseiro. O despertador soa e o jovem acorda. Bate no objeto, que cessa. ALAN espreguiça-se, ao levantar. Ele está apenas de cueca. Sai do quarto).
CORTA PARA:
CENA 005. SALA. INTERIOR. MESA DO CAFÉ.
(MAURO e LUCIANA falam com PEDRO. Prestes a sair. CORTA A MÚSICA. FUNDO: “Vem Comigo – Dedé”).
MAURO – Olha, tua mãe está se sentindo mal. Por isso que não levarei vocês à faculdade hoje. Mas amanhã levarei ok?
PEDRO – Pai, eu cansei de dizer que não sou criança, feito a florzinha do ALAN.
LUCIANA – Quantas vezes eu tenho de repetir que não quero você chamando seu irmão assim? Ele é viado por acaso?
PEDRO – Vocês não sabem é de nada.
MAURO – Amor, não ouça o PEDRO. Você mesma sabe. Ele é venenoso.
LUCIANA – Eu não tô nem aí pra hora do Brasil...
PEDRO – É triste ver um pai dizer isso do filho.
MAURO – Pare de ser dissimulado, que eu lhe conheço muito bem. Não quero me estressar contigo. Tenho que levar tua mãe ao hospital e dirigir “pé da vida” é a pior coisa.
LUCIANA – O recado está dado. Qualquer coisa, já sabe.../
PEDRO (corta / tédio) – Te ligar. (tom de sarcasmo) Melhoras mãezinha. O anjo do Senhor Jesus irá curá-la.
LUCIANA – Debochado. Mas eu agradeço a preocupação. Agora vem cá dar um beijo na tua mãe.
(PEDRO beija o rosto de LUCIANA, entediado).
MAURO – E eu? Nem parece que sou teu pai...
(PEDRO faz o mesmo em MAURO. Após, despede-se dos pais. Eles se retiram. ALAN surge, descendo as escadas. Cruza por PEDRO, que segura seu braço).
PEDRO – Bom dia, florzinha. Dormiu bem?
(ALAN dá um safanão em PEDRO).
ALAN – Me solta, seu merda.
PEDRO – Acordou de mau humor, frutinha? Olha que o dia mal começou. Espero que piore na faculdade.
ALAN – Olha, até perdi a fome. Tendo que conviver com gente de pior espécie, feito você, ficarei desnutrido daqui a alguns dias. Tua presença me dá falta de apetite. Dá-me ranço.
(ALAN volta a subir as escadas, indo em direção ao banheiro. PEDRO gargalha. Malévolo. Apanha uma maçã na mesa e morde).
CORTA PARA:
CENA 006. IMAGENS. RJ. DIA.
(CAM passeia, em vista panorâmica, a alguns edifícios da cidade. Veículos passam).
CORTA PARA:
CENA 007. CASA DE RODRIGO. INTERIOR. QUARTO.
(CORTA A MÚSICA. CAM mostra o quarto de RODRIGO. Um local austero, sombrio. Cheio de cartazes contra a homossexualidade. O jovem está deitado, usando o telefone celular. Conversa com LUIZ, via chamada de vídeo).
LUIZ – Fala aí, mano. Preparado para enfrentar a jornada pós-ensino médio?
RODRIGO – Mais ou menos. Só não quero que nenhuma bichinha venha de graça pro meu lado. Porque, senão, você sabe né?
LUIZ – Até quando ficará com esse preconceito?
RODRIGO – (gesticula com as mãos) Longe de mim. Eu não sou preconceituoso. Apenas quero que todos sigam as leis de Deus.
LUIZ – E assim privando-se de sua felicidade? Que coisa mais injusta, não?
RODRIGO – Injusta nada. É errado. Onde já se viu: Dois homens se beijarem, transarem, como se fosse um homem e uma mulher? Isso não existe, não existe!
LUIZ – O que não existe é respeito, da tua parte. Dois homens podem se amar sim. Podem transar sim. Podem ser felizes sim. Assim também como duas mulheres.
RODRIGO – Mulher tudo bem. Me dá o maior tesão ver duas mulheres se pegando. Imagina duas aqui na minha caminha? Que delícia! Agora, dois machos?! (risos) Que nojo.
LUIZ – Lá vai o que “segue as leis de Deus”. Pegar mais de uma mulher é pecado. Ah. Pegar mulher antes do casamento também é pecado... (T) Eu acho puro egoísmo da tua parte. Mas, do que adianta discutir. Com ou sem você, o mundo será gay!
RODRIGO – Tô achando é que você anda “queimando” umas roscas por aí.
LUIZ – Eu acho que é você quem precisa, pra ver se desencana com essa encubação logo.
(RODRIGO se enfurece e taca o celular na parede).
RODRIGO – Filha da puta!
(RODRIGO se levanta e joga os lençóis no chão, com raiva).
RODRIGO – Merda!
(RODRIGO grita, mas se acalma aos poucos. Senta-se na cama).
RODRIGO – Mas quem ele pensa que é? LUIZ que me aguarde...
(RODRIGO sai do seu quarto).
CENA 008. CASA DE MARIANA. INTERIOR. SALA.
(MARIANA cruza pela sala, com os cabelos presos. Ela vê um recado na porta. É de sua mãe).
MARIANA (lendo) – “Tive que sair mais cedo. Ordens do trabalho. Que Jesus lhe guie nesta nova jornada. De sua mãe, que te ama tanto”. (p/ si) Como eu amo minha mãezinha.
(MARIANA liga o rádio. FUNDO: “Efésios – Fernanda Brum”. A jovem arruma a casa. Varre a sala, dançando, feliz, saltitante).
CENA 009. CASA DE ÉLCIO. INTERIOR. QUARTO DE RAQUEL.
(ÉLCIO entra no quarto de RAQUEL).
ÉLCIO – Filha? Vamos acordar. Já está na hora.
(Silêncio. ÉLCIO aproxima-se da cama, que, aparentemente, RAQUEL está).
ÉLCIO – RAQUEL? Oh, meu Deus. Filha? Levanta agora, em nome de Jesus!
(Silêncio. ÉLCIO puxa os lençóis e a música de fundo cessa. RAQUEL não está na cama. Apenas eram travesseiros no local. O pastor leva as mãos à cabeça).
ÉLCIO – Jesus Cristo. Onde minha filha se meteu?! Será que/
(RAQUEL surge no quarto, completamente descabelada, suja e embriagada. ÉLCIO se assusta).
ÉLCIO (irado) – Onde é que você estava?!
RAQUEL (tonta) – Ih, pai, fudeu. Fudeu, mané.
ÉLCIO – Dá para me responder, em nome de Jesus?!
RAQUEL – Não venha com sermão esta hora da manhã não, viu, “paistor”? Vá com suas pregações pros fiéis da tua igreja.
ÉLCIO – Eu sou seu pai e exijo saber onde estavas.
RAQUEL – Ah, quer saber? Eu tava no baile. Isso mesmo. No baile, com o BRENO.
ÉLCIO – Já te falei pra se afastar desse traficante. Meu Deus do Céu. Jesus, filho de Davi, tenha piedade de mim.
RAQUEL – Passou a orar em voz alta, enquanto conversa? Sei não, hein? Eu vou é dormir, que ganho mais.
ÉLCIO – E a faculdade? Esqueceu-se de que é teu primeiro dia?!
RAQUEL – Que se foda a faculdade. Que se foda o senhor, que se foda tudo e/
(ÉLCIO a interrompe, dando um “belo” de um tapa em sua face. Tensão).
CENA 010. CASA DE ÉLCIO. INTERIOR. QUARTO DE RAQUEL.
(Continuação imediata da cena anterior. RAQUEL se revolta. Humilhada).
RAQUEL – Vá pastor, vá. Isso. Agora, bata-me em minha outra face. Eu viro o rosto pro senhor. Pelo jeito, eu procuro seguir a Bíblia, nesse aspecto. E o senhor?
(ÉLCIO olha pra sua mão, que ainda está estendida, por conta do tapa que dera. Arrependido, começa a chorar e sai do quarto, correndo. RAQUEL fica com aquela cara de tacho, sem entender nada. Ela tranca a porta e se joga na cama, enrolando-se nos lençóis, para dormir).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 011. QUARTO DE ÉLCIO. INTERIOR. RJ. DIA.
(Com um instrumental sereno de fundo, ÉLCIO ajoelha, em prantos, pedindo perdão à Deus. Ele chora compulsivamente. CAM afasta).
CORTA PARA:
CENA 012. CASA DE LUIZ. INTERIOR. SALA.
(LUIZ surge na sala e aproxima-se de onde CARLOS, seu irmão está: Sentado numa cadeira. O jovem coloca seu telefone-celular na mesa. CARLOS levanta-se, preocupado).
CARLOS – Que houve contigo, meu mano?
LUIZ – Adivinha.
CARLOS – Só pode ser uma pessoa... Única:
RODRIGO. Acertei?
LUIZ – Na mosca.
CARLOS – Que foi que ele fez?
LUIZ – O de sempre. Anda dando aqueles “pitis”. E desconta em mim.
CARLOS – Mano, eu já te disse. Esse garoto não presta. Já te falei...
LUIZ – Ele é meu melhor amigo. Apesar disso, é um rapaz de bem.
CARLOS – “De bem”? Falando aquelas coisas? Não duvido nada que ele seja do mal.
LUIZ – Do mal?
CARLOS – Não sei. Mas vindo dele... Só coisa ruim mesmo. (T) Eu vou me arrumar, porque senão chegamos tarde à faculdade. É meu primeiro período, não posso perder.
LUIZ – Nosso. (T) Enfim, vá lá tomar banho, meu mano, que eu vou em seguida.
(CARLOS se retira. LUIZ senta-se na cadeira e apoia seus braços na mesa. Sua face fica apoiada nos braços. LUIZ fica a pensar).
CORTA PARA:
CENA 013. CASA DE VITÓRIA. INTERIOR. QUARTO DE PABLO. RJ. DIA.
(VITÓRIA empurra PABLO da cama e percebe que ele está “molhado”. Ela faz cara de nojo).
VITÓRIA – Ai...! Garoto, que nojo. Até dormindo você não perde a oportunidade de bater/
PABLO (interrompe) – Sempre, maninha. (levanta) Me dê um abraço aqui, vá.
VITÓRIA – Isso é incesto. É pecado. Que nojo!
PABLO – Mesmo se você não fosse minha irmã, eu não te pegaria.
VITÓRIA – Lógico. Você só tem olhos praquela velha lá.
(PABLO se aproxima de um enorme pôster de LOLÔ BRAGA colado na parede. Ele alisa. Como se fizesse carinho na mulher).
PABLO – Não fala assim da minha futura mulher não, hein?
VITÓRIA – Enquanto isso, você vem traindo-a, fazendo essas coisas obscenas. Não sente nojo não?
PABLO – Oh... Como se nenhum homem “tocasse” uma vez ao dia, pelo menos. Muitos falam que é nojento, que é coisa de doido. Mas que adoram “bater”, ah, adoram...
VITÓRIA – Que nojo.
PABLO – Tu só sabe falar isso? O que disse serve pra mulher também. (T) Ah, maninha. Punheta é vida...
VITÓRIA – Vida jogada fora, não?
(Os dois riem. Alegres. Jogam travesseiros um no outro).
CORTA PARA:
CENA 014. CASA DE ÉRIKA. INTERIOR. VARANDA.
(ÉRIKA adentra a varanda, raivosa. LOLÔ vem logo atrás).
ÉRIKA – Eu estou cansada de você, cansada de receber ordens...
LOLÔ – Nossos pais morreram e sou eu quem cuida de você.
ÉRIKA – A senhorita falou uma coisa certa. “Nossos pais morreram”. Você não tem o direito de me impor ordens.
LOLÔ – Sou eu que estou responsável por ti.
ÉRIKA – Mas não se importa comigo.
LOLÔ – Não?! Eu me sustento, te sustento, sustento essa casa. Pagarei tua faculdade... Não me importo?
ÉRIKA – Mas não me dá o essencial.
LOLÔ – O que? Não te falta nada.
ÉRIKA – O amor. Você não me dá amor. Mal se importa comigo, só sabe reclamar, só sabe jogar na cara que me sustenta. Já me perguntou se estou bem, se acordei bem, como foi meu dia ontem? Só se liga pra si mesma, só olha pro próprio umbigo. Não faz mais do que sua obrigação, me sustentando, mas eu tô doida pra arranjar um emprego e sair dessa casa. Parar de ser esse peso que sou na tua vida.
(LOLÔ fica sem reação. FUNDO: “Campo de Força – Sérgio Sá”. Os olhos de ÉRIKA se enchem de lágrimas. Ela se afasta).
ÉRIKA – Deixe-me ir à faculdade, senão me atraso.
(LOLÔ corre atrás, preocupada).
LOLÔ – Não quer que eu te leve não?
ÉRIKA – Não precisa. Sei me virar muito bem sozinha.
(LOLÔ para. ÉRIKA segue, sem olhar pra trás. Ela sai. CORTA A MÚSICA).
CORTA PARA:
CENA 015. IMAGENS DO RIO DE JANEIRO. DIA.
(FUNDO: “Clarear”. Imagens da cidade. Pessoas passam, rapidamente. O tempo também passa).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 016. UNIVERSIDADE NOVOS ARES. EXTERIOR. RJ. DIA.
(Os alunos entram na instituição. Alguns conversam no exterior).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 017. UNIVERSIDADE. INTERIOR. CORREDORES. TÉRREO.
(Um jovem anda pelos corredores do local. Só são mostrados seus pés. CAM sobe à face. É ALAN. Ele caminha meio atrapalhado. Curioso, observa tudo e todos. Ele adentra a sala da direção).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 018. IMAGENS. DIREÇÃO / CORREDORES.
(ALAN recebe as instruções da direção e sai do local. Caminha até seu destino. A sala de aula. Ele adentra o local).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 019. SALA DE AULA. TERCEIRO ANDAR. INTERIOR.
(ALAN anda pelo local, observando. Uma sala grande, com várias carteiras. Ele passa os dedos pelas mesas, até que se senta no fundo. O jovem baixa sua cabeça e põe seus fones de ouvido. Logo depois, LUIZ surge no local, observando-o e, após, olha para ALAN. Pausa. Caminha até ele. Senta-se numa mesa à frente dele).
LUIZ – Ei?
(ALAN não responde).
LUIZ – Oi. Garoto? (berra) Ei!
(ALAN tira seu fone, entediado. Levanta a cabeça e depara com LUIZ, em sua frente. FUNDO: “Detalhes – Roberto Carlos”. ALAN fica paralisado).
CORTA PARA:
CENA 020. CORREDORES DO TERCEIRO ANDAR.
(RODRIGO caminha, em direção à sala, estarrecido).
RODRIGO – Ainda bem que LUIZ vai cursar Direito comigo. Hoje ele irá ouvir algumas verdades. Quem ele pensa que é pra me tratar daquele jeito? Ele vai me ouvir. Ah, vai.
(RODRIGO adentra a sala).
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 021. SALA DE AULA. INTERIOR.
(RODRIGO adentra, já falando).
RODRIGO – Olha só, seu LUIZ, eu não aceito/
(RODRIGO para de falar, ao ver ALAN, que se levanta).
ALAN – Olá, o que está havendo?
(RODRIGO olha para ALAN com ira. Congela em RODRIGO).
CORTA PARA:
A SEGUIR CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
- RODRIGO segura no braço de ALAN.
- CAMILA e JOÃO PEDRO tramam algo.
- CARLOS e VITÓRIA se esbarram.
FIM DO CAPÍTULO
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